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Lorpa

Lorpa

O melhor Verão de sempre

Soa a cliché escrever que nem sei por onde começar. Não sei mesmo, de todo. Sei apenas da necessidade de deixar aqui um registo. Gravar este período e aquilo que representou. Fá-lo-ei como se fosse a última oportunidade que tenho para escrever, como se fosse um texto derradeiro. Não merece menos que isso. E calma que não trata nada triste, pelo contrário, trata de luz e caminho. Trata de vivência.

Talvez deva pôr a Mountain Sound (OMAM) em loop infinito, dopando o meu cérebro e dedos numa espécie de simbiose. É agora já, vamos a isso!

 

Acredito que toda a gente sinta, vamos chamar-lhe, certos vazios na vida. Uma oportunidade que deixou passar, a perda de alguém, o não concretizar de algum desejo, enfim, já perceberam a ideia. Sejam situações inevitáveis ou não, já que por enquanto não controlamos a morte (e ainda bem), acredito ser algo generalizado na nossa espécie. Ora moramos na cidade e sentimos a falta do campo, ou no campo e sentimos falta da cidade. Ora moramos com a família e queremos independência e, quando a temos, sentimos falta dos familiares. Ora estamos sozinhos e queremos alguém, ou quando temos alguém sentimos falta de estarmos sozinhos. Isto somos nós: seres humanos. O António Variações não teve de ir muito longe para se inspirar e escrever o seu "Estou Além", realmente só estamos bem aonde não estamos.

 

Cada um se julgará competente na tomada de decisões e ao que costuma chamar-se de maturidade intelectual. Eu não o sou. Ou melhor, eu não sou aquela pessoa que pondera decisões a pensar no futuro, do género: "Bom, então a ganharmos X por ano, podemos perfeitamente começar a pensar comprar uma casa. Daqui a 20 anos está paga". Que raio, eu nem sei se estarei vivo daqui a 8 dias.

Mentiria se vos dissesse que não tentei sê-lo. Tentei. Completei o secundário, formei-me superiormente e tenho um mestrado. Trabalhei quase 3 anos na área em que me formei e, durante esses 3 anos, creio ter estado a produzir aos poucos esta bomba relógio: a de uma felicidade falsa, onde há o tal vazio constante de tudo o que não temos nesses momentos.

Em tempos, como bom representante da espécie, culpei a sociedade. Culpei a sociedade por toda esta pressão, sobretudo nos jovens. O "termos de ser alguém", o valor do canudo, o enveredar por aquilo que esperam de nós, e tantos outros blá blá blás. Hoje, sei que temos de ser nós a pôr-nos na linha. Simples.

 

light in the night

 

Tudo o que escrevi até agora serve o que se segue:

Há meia dúzia de meses, verifiquei que tinha crescido finalmente um par de tomates. Daqueles rijos, bons para salada. Decidi fazer essa salada, que acabou por ser mista e, além dos tomates, tinha também esclarecimentos e certezas. Tinha uma cabeça a apontar para o céu nocturno mas ligada a pés bem assentes no chão. Foi o período mais esclarecedor da minha vida.

Demiti-me do emprego, suspendi a cédula profissional e segui viagem de regresso às origens. Trazia a casa atrás e o entusiasmo à frente.

E sabem que mais? Quando somos nós (só nós, por inteiro) a tomar uma decisão, está sempre tudo bem. Mesmo que esteja mal. Eu descobri a sensação extraordinária de ter tanta certeza numa escolha difícil. De ter certeza ao ponto de nada nem ninguém ser capaz de me demover, fosse com que argumento fosse. E acho que é esse o auge da nossa experiência no que toca a estar realizado.

 

Voltei às origens com uma certeza: a de que tinha mesmo de ser. E que força que essa certeza tem, deixem que vos conte.

Deixem que vos conte esta liberdade de, até certo ponto, guiarmos as nossas vidas. De fazermos o que queremos. De estarmos tão sedentos de tudo e de todos que não nos negamos a nada. De voltar a adormecer de manhã e acordar para o almoço, porque não há tempo a perder. De não dizermos que não a ninguém. De descobrir o melhor e o pior das pessoas, mesclado nos nossos melhores e piores. De rever amigos antigos, reatar laços, passar dias e noites com eles. Reavivar memórias, redescobrir os melhores e piores uma vez mais. De tornar a não dizer que não a ninguém, mesmo quando todo o meu corpo o fazia.

 

Caramba. Olhar para trás agora, que sensação incomparável. Arrisco dizer que esta fase fará parte do tal amadurecimento intelectual. Não há fantasmas, não há "ses". Há a certeza de que as nossas decisões, certas ou erradas aos olhos da sociedade, são sempre as melhores. São nossas. 

 

Não tenho bem noção do que acabei de escrever, talvez pareça um daqueles textos de auto-ajuda. Credo! Não é o que pretendo. Quero apenas deixar um registo físico que possa reler daqui a meses, se bem que talvez seja o registo mais pessoal que partilho. É de certeza. Pode ser que venha a empurrar alguém em situação semelhante.

 

Aquele chavão do "mais vale falhar a tentar do que não saber no que daria" é mesmo verdadeiro. No final, o que interessa é como tu fazes a tua história. Ou pelo menos, como tentas fazê-la. É isso que importa. 

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