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Lorpa

Lorpa

Sobre as expressões idiomáticas - parte 2

speak

 

Há coisa de uns meses escrevi um texto minado de expressões idiomáticas. A nossa língua é altamente produtiva nesse campo.

Foi algo que me deu bastante gozo fazer e, se quiserem, podem ler aqui. Durante o fim de semana, lembrei-de disso e aventurei-me a escrever uma continuação da história. Foi para o que me deu:

 

 

Ele foi para casa afogar as mágoas. Apanhou uma piela que durou dias e andou à deriva até bater no fundo. Estava feito num oito, mas queria um acerto de contas.

Apareceu do nada em casa dela, queria pôr tudo em pratos limpos. Contudo, bateu com o nariz na porta. Alguém deu com a língua nos dentes e lhe disse que ela foi laurear a pevide com um rapaz bem parecido. Ele ficou fora de si:

«Desta vez pisaste o risco», pensou.

Estava de coração partido e de cabeça quente, a junção perfeita para dar barraca.

Primeiro foi ao café preferido dela: estava às moscas. Depois foi ao parque da cidade: havia muita gente a dar à língua, outros a dormir que nem pedras, mas não havia rasto dela. Ficou prestes a rebentar, tinha os miolos a ferver cada vez mais. Sentia ter corrido os quatro cantos do mundo para nada, mas nem pensar em morrer na praia.

Tomou a decisão drástica de ir comprar uma arma no mercado negro, que lhe custou os olhos da cara. Mais cedo ou mais tarde iria encontrá-la, estava em pulgas para nessa altura puxar o gatilho.

E sem que nada o fizesse esperar, ao virar da esquina, lá vinha ela com o rapaz bem parecido.

Enfentou-os e virou-se para ela, atirou-lhe com as culpas por tudo e disse-lhe que se preparasse para ir desta para melhor. Ela estava-se nas tintas, as palavras entravam-lhe por um ouvido e saíam-lhe por outro.

Foi a gota de água, ele puxou pela arma com os olhos a fazer faísca. Ela levou-o a sério, ele queria mesmo limpar-lhe o sebo. Cantou de galo e disparou. Carregou outra vez e mais outra. E ainda outra.

Não aconteceu nada, tinham-lhe vendido gato por lebre. Ficou com a cabeça a andar à roda. Perdeu o norte, depois os sentidos.

Quando acordou para a vida, já estava a ver o sol aos quadradinhos. Foi dentro e pagou caro por tudo o que fez. Tinha realmente feito asneira e sentia-se um zero à esquerda.

 

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E é isto. Uma pessoa pode (e talvez deva) escrever montes de coisas em atraso, mas depois mete isto na cabeça e prefere desafiar-se e ver até onde consegue ir. Vidas!

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