o espaço onde são trocadas ideias e o comércio é exigente
A entrada é gratuita e podem trazer amigos e familiares convosco. Os animais de estimação também são bem-vindos aqui.
A minha Garagem fica na encruzilhada das nossas estradas, onde alguém procura trocar um livro, vender um produto ou discutir uma ideia para um projecto. Se procuras livros em bom estado, produtos geek e discussões sobre temas contemporâneos, então este espaço talvez te agrade.
O B J E C T I V O
Juntar a comunidade interessada nos temas referidos em cima, num espaço descontraído e informal. Ao mesmo tempo que se compra uma "bugiganga" pode discutir-se acerca de uma ideia para um negócio de t-shirts, por exemplo.
C O M O F U N C I O N A ?
Às 00:00 de cada segunda-feira, serão colocados para troca/venda todos os artigos submetidos até sexta-feira da semana anterior. Haverá também um tema em discussão, escolhido por mim ou através de votos. O tema será discutido durante uma semana inteira, e as conclusões apresentadas na semana seguinte. Ou seja, a cada duas semanas existirá um novo tema/ideia para discutir.
Quanto aos produtos, ao cabo de um mês consecutivo em prateleira, aqueles que não foram trocados/vendidos serão removidos.
Nota: Excepcionalmente, os artigos colocados durante o primeiro mês de funcionamento da garagem ficarão por cá durante dois meses.
Antes de deixar-vos com a missão da semana e com meia dúzia de regras finais, quero dizer o seguinte: talvez tudo isto seja uma ideia algo fantasiosa da minha cabeça. Mas como teima em não desaparecer, quero acreditar que poderá tornar-se em algo importante. Se ajudar uma pessoa, uma pessoa que seja!, então já valeu a pena. É por isso que quero terminar dizendo que irei precisar das vossas sugestões e da vossa ajuda para conseguir reajustar o caminho. Tenho a certeza que só dessa forma a experiência poderá ser a melhor possível.
M I S S ÃO DA S E M A N A
Como referido ainda agora, sozinho nunca irei conseguir levar a Garagem até onde imagino que possa chegar um dia. Durante o que resta desta semana, e na próxima, serão angariadas as ideias e produtos. Por isso, até dia 4 de Maio, a Garagem pretende:
- Encontrar "compinchas" interessados em juntar-se ao projecto, regular ou pontualmente. Contactem-me pelo chat ou pelo e-mail quaselorpa@gmail.com;
- Ter o vosso feedback através de artigos que queiram trocar/vender, propostas de temas a abordar e todo o tipo de sugestões. Comentem o post ou contactem através do chat no facebook.
Obrigado malta!
O U T R A S R E G R A S
1. Sendo a Garagem pública, qualquer pessoa é livre de participar. Contudo, os comentários, os pedidos e as propostas são filtrados e escolhidos de acordo com a ideologia do espaço;
2. A submissão de pedidos para troca e venda de produtos, bem como as sugestões de temas a abordar, é feita de forma privada no chat da página de facebook do blogue;
3. Os artigos comercializados terão de ser obrigatoriamente geek, isto é, estar relacionados com tecnologia, livros, filmes, séries, jogos, etc.;
4. Só poderão ser trocados/vendidos artigos novos (selados ou por estrear). No caso dos livros, caso tenham já sido lidos, não podem apresentar marcas de uso;
5. É obrigatório trazer honestidade e bom ambiente para a Garagem, respeitando sempre os outros participantes. Não serão toleradas atitudes que contrariem a frase anterior.
Ontem, durante a leitura "pré-caminha", apanhei um daqueles parágrafos que me dão vontade de sair porta fora, correr até ao centro de cópias mais próximo, arrombar a fechadura, e fazer de uma impressora minha refém.
Depois, leio-lhe pausadamente (à impressora) a passagem em questão:
Cada um de nós possui qualquer coisa de especial, que se revela numa determinada altura da nossa vida, e só uma vez, como uma pequenina chama. As pessoas precavidas, abençoadas pela fortuna, conservam religiosamente essa chama, fazem-na crescer, usam-na como uma tocha que ilumina as suas vidas. Mas uma vez apagada, ela não voltará nunca mais a acender-se.
Garantido o Síndrome de Estocolmo, peço-lhe que me imprima o maior número de cópias possível. Ela (a impressora) imprime desenfreadamente até surgir uma mensagem da necessidade de trocar os toners. Pego no molho das folhas, olho à minha volta e consigo discernir uma prateleira com tinteiros expostos. Agarro dois deles e ofereço-lhos (à impressora) como forma de agradecimento. A intenção seria boa se os tinteiros lhe servissem, mas com a pressa nem me lembrei que era de toners que (a impressora) precisava.
Saio em direcção ao silêncio da noite: eu, o molho das folhas, uma caneta azul e uma convicção inexplicável. À frente de cada porta retiro uma folha, a primeira em que parei tinha o número 59. Escrevo logo abaixo da citação impressa: "Qual é a pequenina chama de quem mora na porta nº 59?", dobro a folha e enfio-a na caixa de correio. Faço o mesmo na porta 57, logo ali ao lado. E na 53, na 51, na 49...
Não me lembro de muito mais que isto. Acordei de manhã com a sensação de ter deambulado a noite toda pelas casas das pessoas, qual carteiro da noite. Não me sentia um invasor, sentia ter feito o necessário. Seria tão bom que todos nós conservássemos esta chama.
E vocês, o que fizeram à vossa "pequenina chama"?
Nota: A citação faz parte de Sputnik, meu Amor de Haruki Murakami.
Durante a semana passada fui visitar e inscrever-me na Biblioteca Municipal de Leiria, dado que irei aqui morar durante os próximos tempos. Como trouxe alguns livros do Alentejo não planeava trazer mais comigo, ia apenas conhecer o espaço e bisbilhotar as estantes.
Depois de feita a inscrição, a funcionária (muito simpática, é importante referir) falou-me das várias salas existentes. Explicou-me os cantos da casa, digamos assim.
Posto isto, dirigi-me à sala de leitura dos adultos. Não me perguntem porquê que eu também não sei, mas logo depois de entrar veio-me à memória a capa de "O Homem que Plantava Árvores". Assim, do nada. Lembrei-me também de ter lido uma review algures pelo Goodreads e de ter ficado com vontade de ler o livro.
Nada acontece por acaso e se me tinha lembrado do livro naquele momento por algum motivo seria. Decidi que iria levá-lo caso fizesse parte da oferta da biblioteca. Fui vagueando pela sala, vasculhando as estantes e marcando alguns alvos futuros.
Entretanto não me conseguia lembrar do autor, só me recordava que tinha dois nomes semelhantes e isso não ajudava em nada. Peguei no telefone e rapidamente verifiquei: Jean Giono. Sempre tinha dois nomes parecidos.
Dirigi-me aos "Gês" e procurei o livrinho. Nada. «Porque é que o raio do livro me veio à cabeça se a biblioteca não o tem?». Nesse momento, a funcionária daquela sala apareceu atrás de mim e perguntou-me se precisava de ajuda.
- Olá. Por acaso preciso, como é que adivinhou?
- Porque vejo que procura, procura, e ainda não encontrou o que quer - respondeu-me.
- Tem razão. Estou a tentar encontrar "O Homem que Plantava Árvores", de Jean Giono. Têm?
- O título não me é estranho, deixe-me ir ver. Acho que temos.
A senhora voltou pouco depois com um papelinho escrito à mão.
- Nós temos esse livro, mas não está aqui. Está no andar de cima, na sala de leitura infantil. É só subir aquelas escadas - apontou as escadas, que eram próximas da entrada daquela sala - e entregar este papel à minha colega. O papel continha a referência e a estante que albergava o livro infantil que, eu, queria requisitar.
O meu primeiro instinto foi responder "Muito obrigado, o meu filho vai adorar". Depois lembrei-me que com a quantidade de barba que apresento, ninguém iria acreditar que já teria um filho com idade para ler. Corrijo: que já teria um filho, assim é suficiente.
Ao invés disso, fiquei-me por um automático "Obrigado. Vou já lá então."
Pelo caminho, enquanto deixava para trás a funcionária e também o meu orgulho, pensava «Bem, infantilidade por infantilidade, se calhar vou mas é embora e não levo o livro. Espera!, vou dizer que é para ler a um sobrinho meu que vai agora entrar para o 1º ano. É isso mesmo!». Por esta altura já ia a subir as escadas e já tinha deixado passar a oportunidade, uma espécie de vida em ponto bibliotecário.
Lá fui ter com a funcionária da sala de leitura infantil, lá entreguei a vergonha o papel, e lá trouxe o livro.
Enquanto descia as escadas, sentia que a cada degrau deixava cair mais um pouco de dignidade, sentia que deixava um rasto invisível de honra a cada passada. Por isso, e como uma infantilidade nunca vem só, ao chegar ao fundo das escadas decidi regressar às estantes dos adultos e trazer de lá outro livro também. Só para equilibrar a coisa.
Fui aos "Émes" ver de algum Murakami, e peguei instintivamente no "Sputnik, meu amor".
E pronto, no fim de contas, após requisitar ambos os livros e já cá fora a caminhar, pensava em como a única atitude não infantil (a de querer requisitar um livro que por acaso fazia parte da secção infantil), desencadeou um conjunto de acções próprias de criança e, aí sim, verdadeiramente infantis.
Foi isto. A primeira vez que entrei na Biblioteca de Leiria foi isto. Já valeu a pena ter lá ido.
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