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Lorpa

Lorpa

Então foi assim

Dois mil e dezasseis fica na história por razões várias. Todos os anos ficam, claro, mas a verdade é que este último ano parece ter sido mais marcante que outros. Aos que eu já assisti, pelo menos. Fico com a ideia de que aconteceram vários acontecimentos. Vocês também?
 
Na realidade creio que o ano foi mesmo marcante. Vem-me desde já à lembrança o Europeu de Futebol e o bloco de emoções que aqui guardei. Do ano em que vivi o melhor Verão de sempre. De mais uma mão cheia de boas memórias. Neste ano velhinho que se foi para sempre:
 
- Senti a textura das rédeas da minha vida. Nas minhas mãos;
- Fui pela primeira vez à Feira do Livro de Lisboa;
- Tive a certeza de que o Benfica não iria ser campeão;
- Fiquei com um pulso moído depois do golo do Éder;
- Vivi durante 5 meses na minha terra natal;
- Adquiri uma pequena relíquia de conhecimentos agrícolas;
- Vi crescer uma framboeiseira por "geração espontânea";
- Fotografei duas estrelas cadentes (em condições);
- Falhei o objectivo literário por 4 livros (19/23);
- Acertei uma estrela no euro milhões da única vez que joguei;
- Enchi o carro com a tralha (saco cama incluído) e parti à procura de casa num local novo;
- Assisti ao assassinato de uma ratazana do tamanho da cabeça do meu cão. Foi ele o assassino;
- Celebrei quando o valor do IRS a pagar foi bastante inferior ao previsto na estimativa;
- Descobri um hambúrguer vegetariano que consegue saber bem (no Aldi);
- Corri uns vergonhosos 314 quilómetros e não participei em nenhuma prova de corrida;
- Disfarcei-me no Carnaval pela primeira vez desde que tenho mais de 10 anos (de Floki, da série Vikings);
- Pernoitei em casa do meu melhor amigo do Secundário, depois de não estar definitivamente em condições para conduzir. Nostalgia no seu pico máximo;
- Criei esta espécie de túmulo de pensamentos e memórias, a que o comum dos mortais gosta de chamar blogue;
- Senti aquele vazio agradável quando terminei "A Sombra do Vento" e emoções muito parecidas às experimentadas durante a leitura da saga HP enquanto lia "O Nome do Vento";
- Fui multado pela primeira vez: excesso de velocidade. Meus ricos 120€;
- Despedi-me de pessoas boas (verdadeiramente bondosas e simpáticas), com as quais trabalhei durante dois anos, em busca de realização profissional;
- Criei conta no Instagram e descobri ser possível dizer que gosto de uma rede social;
- Bati (de certeza) o meu recorde pessoal na quantidade de chocolates ingeridos.
 
 
E fico-me pelos chocolates, que é sempre um bom final. Quero agradecer à Carolina, que com o seu post 2016 me inspirou a escrever este.
 
Já o tinha dito e agora reafirmo: 2016 foi o melhor ano de sempre. Fica na minha história como o ano da grande mudança. Foi o melhor ano de sempre! E isso é inevitável.
Em 2017 quero, pelo menos, poder dizer o mesmo. Tenho objectivos em mente, checkpoints para alcançar, pessoas para conhecer, boas energias para distribuir e aventuras por descortinar. Tem tudo para ser um bom ano 
 
 
Bom ano a todos, minha gente!
 

adventure

Nostalgia ao calhas - vaguear em terra batida.

Conheci a minha terra sem tapetes de alcatrão. Nos dias em que aprendia letras maiúsculas e minúsculas, diferentes entre elas não por premir um shift, as máquinas passeavam barulhos e cheiros estranhos pelas ruas da aldeia. Tudo era novo, especialmente o pavimento suave e menos poeirento. Os ténis colavam-nos ainda mais ao chão, como se aqueles novos caminhos nos quisessem segurar por ali e a gravidade não fosse competente para tal.

 

Hoje e sem motivo aparente, coisa na qual custo a crer, olhei demorado os caminhos da minha terra. Vi um alcatrão enfraquecido pelos anos com buracos e fendas, remendado. Disse para comigo que é esse o caminho de todas as coisas. Comparei as pessoas, os lugares e este bloco temporal a que chamamos de vida, às serpentes semi-negras que fazem deslizar rodas e pernas e patas, enfim... Vi a estrada de alcatrão como uma possível metáfora para o passar do tempo: fica gasta e velha, às vezes inutilizável e, por mais que pareça não ter fim, há sempre um corte que nos leva ao final da estrada.

 

Quando o pensamento mudava já de estação, lembrei-me da terra batida, escondida por baixo das toneladas de alcatrão. Do pó. Dos ténis sujos que faziam fumo quando batia os pés. Daquela terra batida que viu séculos de gente. Do cheiro desse pó dessa terra, molhado por chuva milenar. E aquela gota nostálgica de saliva agridoce, com tendência para o doce, causou o tal sorriso interno das recordações que julgávamos perdidas, mas que na verdade apenas vagueiam pelas nossas memórias mais profundas: as nossas terras batidas.

 

terra batida

 

O melhor Verão de sempre

Soa a cliché escrever que nem sei por onde começar. Não sei mesmo, de todo. Sei apenas da necessidade de deixar aqui um registo. Gravar este período e aquilo que representou. Fá-lo-ei como se fosse a última oportunidade que tenho para escrever, como se fosse um texto derradeiro. Não merece menos que isso. E calma que não trata nada triste, pelo contrário, trata de luz e caminho. Trata de vivência.

Talvez deva pôr a Mountain Sound (OMAM) em loop infinito, dopando o meu cérebro e dedos numa espécie de simbiose. É agora já, vamos a isso!

 

Acredito que toda a gente sinta, vamos chamar-lhe, certos vazios na vida. Uma oportunidade que deixou passar, a perda de alguém, o não concretizar de algum desejo, enfim, já perceberam a ideia. Sejam situações inevitáveis ou não, já que por enquanto não controlamos a morte (e ainda bem), acredito ser algo generalizado na nossa espécie. Ora moramos na cidade e sentimos a falta do campo, ou no campo e sentimos falta da cidade. Ora moramos com a família e queremos independência e, quando a temos, sentimos falta dos familiares. Ora estamos sozinhos e queremos alguém, ou quando temos alguém sentimos falta de estarmos sozinhos. Isto somos nós: seres humanos. O António Variações não teve de ir muito longe para se inspirar e escrever o seu "Estou Além", realmente só estamos bem aonde não estamos.

 

Cada um se julgará competente na tomada de decisões e ao que costuma chamar-se de maturidade intelectual. Eu não o sou. Ou melhor, eu não sou aquela pessoa que pondera decisões a pensar no futuro, do género: "Bom, então a ganharmos X por ano, podemos perfeitamente começar a pensar comprar uma casa. Daqui a 20 anos está paga". Que raio, eu nem sei se estarei vivo daqui a 8 dias.

Mentiria se vos dissesse que não tentei sê-lo. Tentei. Completei o secundário, formei-me superiormente e tenho um mestrado. Trabalhei quase 3 anos na área em que me formei e, durante esses 3 anos, creio ter estado a produzir aos poucos esta bomba relógio: a de uma felicidade falsa, onde há o tal vazio constante de tudo o que não temos nesses momentos.

Em tempos, como bom representante da espécie, culpei a sociedade. Culpei a sociedade por toda esta pressão, sobretudo nos jovens. O "termos de ser alguém", o valor do canudo, o enveredar por aquilo que esperam de nós, e tantos outros blá blá blás. Hoje, sei que temos de ser nós a pôr-nos na linha. Simples.

 

light in the night

 

Tudo o que escrevi até agora serve o que se segue:

Há meia dúzia de meses, verifiquei que tinha crescido finalmente um par de tomates. Daqueles rijos, bons para salada. Decidi fazer essa salada, que acabou por ser mista e, além dos tomates, tinha também esclarecimentos e certezas. Tinha uma cabeça a apontar para o céu nocturno mas ligada a pés bem assentes no chão. Foi o período mais esclarecedor da minha vida.

Demiti-me do emprego, suspendi a cédula profissional e segui viagem de regresso às origens. Trazia a casa atrás e o entusiasmo à frente.

E sabem que mais? Quando somos nós (só nós, por inteiro) a tomar uma decisão, está sempre tudo bem. Mesmo que esteja mal. Eu descobri a sensação extraordinária de ter tanta certeza numa escolha difícil. De ter certeza ao ponto de nada nem ninguém ser capaz de me demover, fosse com que argumento fosse. E acho que é esse o auge da nossa experiência no que toca a estar realizado.

 

Voltei às origens com uma certeza: a de que tinha mesmo de ser. E que força que essa certeza tem, deixem que vos conte.

Deixem que vos conte esta liberdade de, até certo ponto, guiarmos as nossas vidas. De fazermos o que queremos. De estarmos tão sedentos de tudo e de todos que não nos negamos a nada. De voltar a adormecer de manhã e acordar para o almoço, porque não há tempo a perder. De não dizermos que não a ninguém. De descobrir o melhor e o pior das pessoas, mesclado nos nossos melhores e piores. De rever amigos antigos, reatar laços, passar dias e noites com eles. Reavivar memórias, redescobrir os melhores e piores uma vez mais. De tornar a não dizer que não a ninguém, mesmo quando todo o meu corpo o fazia.

 

Caramba. Olhar para trás agora, que sensação incomparável. Arrisco dizer que esta fase fará parte do tal amadurecimento intelectual. Não há fantasmas, não há "ses". Há a certeza de que as nossas decisões, certas ou erradas aos olhos da sociedade, são sempre as melhores. São nossas. 

 

Não tenho bem noção do que acabei de escrever, talvez pareça um daqueles textos de auto-ajuda. Credo! Não é o que pretendo. Quero apenas deixar um registo físico que possa reler daqui a meses, se bem que talvez seja o registo mais pessoal que partilho. É de certeza. Pode ser que venha a empurrar alguém em situação semelhante.

 

Aquele chavão do "mais vale falhar a tentar do que não saber no que daria" é mesmo verdadeiro. No final, o que interessa é como tu fazes a tua história. Ou pelo menos, como tentas fazê-la. É isso que importa. 

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